[K] Rise of K i n g s .
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Prólogo: A Estrada de Tijolos Dourados;

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Mensagem por Kokujouji Michiyo Qui Mar 22, 2018 12:52 pm

黄金の王 — 通世;

"Cresça e vire um grande homem como o seu avô foi, Michiyo, e então você terá o mundo todo só para você."

O mundo?

Sim, o mundo inteiro — afirmou o homem, afagando os cabelos escuros do filho.

O mundo... — murmurou o menininho, fitando a cidade abaixo da Torre Mihashira, esboçando um pequeno sorriso nos lábios.

O brilho do sol, que aos poucos começava a esconder-se no horizonte, lançava uma luz alaranjada por toda a cidade, colorindo-a por inteiro. Refletindo nos olhos do garoto, deixavam-os com um notável tom de dourado, como se fossem feitos de ouro líquido e puro. Mesmo ainda tão novo, aquela promessa — de que o mundo todo seria seu — gravou-se profundamente na memória e essência de Michiyo.

Era o seu futuro, a sua força e a sua motivação.

Nascera para se tornar um Rei e assim o faria.

♦

Sinceramente, Michiyo não lembrava-se como havia conhecido Yuzu.

As memórias da sua infância eram nubladas, mas quase tudo sobre a garota era bastsnte nítido. Lembrava-se das muitas vezes em quem correram alucinados pelos corredores tanto da sede da HOMRA quando pela Torre Mihashira, as inúmeras brincadeiras entre as pernas de adultos nos bailes da alta sociedade e, principalmente, o dia em que havia se perdido em uma daa tais festas, não encontrando nem a garota nem os pais, chorando sem parar até sentir o cachecol vermelho em volta do pescoço e o confortável olhar de Yuzu.

"Enquanto você usar isso, nunca, nunca vai se perder do caminho de casa."

Desde então, Michiyo jamais removera aquele cachecol do pescoço.

♦

"Você jamais deve confiar em qualquer outro clã, Michiyo, isso é essencial para a nossa sobrevivência."

Aquelas palavras de sua mãe sempre soavam incertas na cabeça do pequeno herdeiro dourado. Yuzu e Kyouma eram vermelhos e seus melhores amigos, por que não deveria confiar neles? De certa forma, o garoto sempre tivera alguma inclinação para a rebeldia, portanto, os ignorou. Nào tinha com o que se preocupar, afinal, eram seus amigos.

Nem mesmo a forte tensão parecia incomodar as três crianças em suas costumeiras brincadeiras. Michiyo era verdadeiramente feliz enquanto podia permanecer ao lado dos seus amigos, porém tais sentimentos não comoviam a ninguém.

Os tiros e gritos foram ouvidos e a confusão se instalara em todo o salão; a multidão alarmada corria para salvar a própria vida, sem nem mesmo importar-se com as crianças perdidas em seu meio. Michiyo agarrava-se assustado ao cachecol vermelho, tentando encontrar alguma ajuda, até sentir sua cintura ser agarrada e se ver sendo levado para longe para alguém desconhecido.

Era um vermelho. Estava seguro, afinal. Eles jamais lhe fariam algum mal.

Isso até se ver agarrado pelo pescoço, a arma apontada para a sua cabeça e o olhar desesperado dos seus pais, rodeados por Usagi, enquanto vermelhos e dourados se enfrentavam. Michiyo chorara constantemente até apagar e não lembrar-se de mais nada até já estar na Alemanha.

♦

Papai disse que um Rei jamais deve mostrar as suas lágrimas — murmurou o garoto, enrolado em cobertores, apertando o cachecol com as pequenas mãozinhas — mas dói tanto.

Após o incidente, Michiyo fora levado para a Alemanha, onde viveria em segurança, longe dos perigos dos outros clãs. Finalmente havia entendido as palavras dos seus pais: quando menos esperasse, seria apunhalado pelas costas. Apesar disso, seus sentimentos em relação a Yuzu e Kyouma eram imutáveis; sabia que eles não tinham qualquer culpa naquilo e voltaria assim que pudesse ao Japão para reencontra-los. Não choraria mais, tornaria-se forte o bastante para defender-se e subiria ao posto de Rei.

O mundo vai ser meu, apenas assim eu posso acabar com todo esse sofrimento.

♦

"Sua mente deve ser tão afiada quanto a flecha, Michiyo, apenas assim você será um real guerreiro, de corpo e alma."

O arco dourado e a flecha tramiam fracamente nas mãos do garoto. Seus dedos estavam enrolados em curativos, graças às várias horas dedicadas ao seu treinamento. Em momento algum fora forçado àquilo, pelo menos não por alguém. Sua convicção e objetivos o forçavam a trabalhar cada vez mais duro. Tinha de ficar forte, mais forte que qualquer um, se quisesse se tornar o Rei Dourado. Era o herdeiro, seu destino estava em sua frente, apenas precisava agarra-lo com tudo.

Respirou fundo, fechando um único olho e mirando com precisão. Puxou a flecha presa à linha, pondo apenas a força necessária para um único disparo. Tinha de ser perfeito em todos os aspectos. Soltou a corda e a flecha zuniu, cortando o ar e cravando-se no centro do alvo, como se devesse pertencer àquele lugar e nenhum mais.

Incrível, Michiyo-sama, dominou a arte da arquearia tão novo — elogiou o instrutor alemão, falando um estranho japonês graças ao sotaque.

Eu... — murmurou o garoto, desviando o olhar para o chão, torcendo levemente as roupas tradicionais que costumava vestir em seus treinamentos. — Obrigado.

Você será grande, não tenho dúvida alguma — continuou o homem, sem notar o desconforto de Michiyo.

Vamos parar por hoje. Já é tarde e estou cansado.

Como preferir, senhor.

A constante mudança de Michiyo através dos anos fazia o garoto sentir-se cada vez mais confuso e insatisfeito com tudo. Via o mundo como uma desordenada mistura de cores em expansão, cada uma tentando tomar o lugar de outra, conflitando até não sobrar nada além de puro negro. O Kokujouji passara a acreditar que a humanidade apenas estaria em paz quando uma única cor reinar e transformar tudo.

Essa era a estrada que devia seguir.

Tornar-se Rei e tomar o mundo para si.

Apenas assim todos alcançariam a felicidade.

Esse é o meu sonho e vou realiza-lo pela Yuzu-chan — murmurou enquanto guardava o arco dourado.

♦

Você não entende nada! Nós temos o mundo sobre os nossos pés e você não faz nada! — exclamou Michiyo, irado. Já estavam há certo tempo naquela discussão e seu pai continuava inflexível.

Quem não entende nada é você! É apenas um garoto mimado que não sabe nada da vida! Jogou fora tudo o que te ensinei e agora aparece com essas ideias ridículas — respondeu, tentando, de certa forma, controlar a raiva pelo filho rebelde.

Ensinou errado! Você tem dinheiro e poder e não utiliza da forma correta! Você e o meu avô fizeram tudo errad-

Antes que pudesse dizer alguma coisa, sentiu o rosto arder e pulsar com a dor. A visão de Michiyo escureceu-se por um momento, até focar na expressão enraivecida do seu pai, que novamente tinha a mão levantada.

Nunca, nunca mais, fale do seu avô desse jeito — respondeu o pai, com a voz baiza e controlada. — Você vai para o Japão. Ficará responsavel pela sede de lá. Você tem dez anos para me mostrar que a sua forma de pensar é a correta, se não, você não terá direito a nada meu, nem mesmo o seu sobrenome.

Pai...

Você escolheu o seu caminho. Agora deve se mostrar digno de um Rei. Não me decepcione, Michiyo — e o homem virou as costas.

E aquela foi a última vez que vira o pai.

♦

Michiyo nunca esteve tão eufórico em uma viagem. Nunca deixara a Alemanha desde que passou a viver lá, portanto era como se respirasse novamente. Apenas por poder falar a sua língua materna 24h por dia já era grande coisa. Porém, não era só por isso que estava feliz.

Primeiro: estaria dando o primeiro passo para se tornar o Rei do Clã Dourado. Não poderia falhar;

Segundo: poderia fazer o que quisesse, quando quisesse;

Terceiro e mais importante: poderia rever Yuzu, Kyouma e Nozomi.

O garoto nem mesmo conseguia parar quieto em seu assento. Se perguntava se eles ainda lembrariam de si e como estariam nos dias de hoje. Tinha tantas saudades que doía e após tanto tempo, os pensamentos que tinham sobre Kyouma haviam mudado bastante. Michiyo sentiu as bochechas esquentarem por um momento e logo cobriu o rosto no cachecol. Aquilo não importava agora. Apenas precisava reencontra-los. O resto podia ser deixado para depois.

Entretanto, havia algo incomodando Michiyo. Sua chegada ao Japão infelizmente não estava sendo exatamente secreta. Veja bem, Timeless Palace passou a ser uma corporação conhecida mundialmente, apesar dos objetivos aida serem nublados, portanto, a troca do "responsável" pela sede japonesa, a primeira e talvez mais importante (já que ainda guarda a Dresden Slate), não é algo que se passava despercebido. Sabia que teria de enfrentar uma legião de repórteres assim que saísse do avião.

E ainda havia aquela sensação estranha em seu peito. Ignorando todos os seus sentimentos em relação à volta ao Japão, ainda sentia algo completamente diferente, que não sabia como explicar. Parecia que havia uma pequena chama em seu peito, ardendo fracamente, esperando algum estímulo. Parecia loucura, mas ainda a sentia. Gostaria de entender aquilo, mas não era importante. Não era exatamente ruim.

Deixou que um pequeno sorriso decorasse o seu rosto. Nada de ruim poderia acontecer, afinal,

eu estou voltando para casa — murmurou contra o cachecol vermelho.

♦

Entretanto, Michiyo sentiu-se pequeno olhando a Torre Mihashira da entrada.

Certamente, lembrava-se do quanto o edifício era grande, afinal, passara o início da sua vida lá. Mas olhá-lo daquela forma, após tantos anos longe, lhe tirava o fôlego. A nostalgia fora tanta que os olhos encheram-se de lágrimas, precisando retirar os óculos de armação vermelha (apesar do amor pelo Clã Dourado, sua cor favorita ainda era o vermelho) e limpa-los. E o melhor: tudo aquilo era seu.

Mesmo com o ego inflando-se, era um pouco difícil para Michiyo adentrar daquela forma. Todos lhe olhavam, reverenciavam, cumprimentavam e perguntavam se precisava de algo. Mais uma vez, sentia-se pequeno, como se voltasse a ter cinco anos. É só o primeiro dia, pensou, ru vou me acostumar. Vou ser um bom Rei. Era difícil acreditar que todos aqueles eram seus subordinados.

Os que mais intrigavam Michiyo eram os Usagi. Mesmo após todos os anos em que as auras foram extintas, a Elite do Clã Dourado continuava firme, polindo suas habilidades da melhor forma, mesmo nos limites humanos. Agora, eles dariam a sua vida para protegê-lo. Não os decepcionaria de forma alguma.

Demorou algum tempo para que o elevador o levasse ao seu destino, o topo, portanto Michiyo precisou distrair-se com a visão da cidade na visão panorâmica. Ainda parecia um sonho e, sinceramente, o garoto não queria acordar. Assim que alcançou o terraço, pediu que os Usagi levassem todas as suas bagagens para os seus aposentos e o deixassem sozinho. Apesar da relutância, aceitaram.

As últimas memórias daquele jardim atingiram Michiyo como socos, não resistindo ao choro. As lágrimas rolaram pelas bochechas enquanto os olhos registravam o decorado jardim tradicional, as plantas delicadas que rodeavam o pequeno lago e a ponte de madeira escura. O melhor de tudo, apesar de não combinar com o ambiente, eram as capivaras. Os belos roedores vagavam quietamente pela água, vez ou outra fitando Michiyo com curiosidade, mas logo voltando a se alimentar. Desde criança possuía capivaras de estimação no jardim da Torre, afinal, eram os animais favoritos de Yuzu e acabaram por ser também de Michiyo. Para ele, não haviam melhores animais que aqueles.

Respirou fundo, atravessando a ponte e deixando as capivaras quietas. Aproximou-se do parapeito e segurou as barras de metal, deixando os olhos castanhos vagarem por toda Tóquio. Era a sua casa e, um dia, seria a sua cidade. Assim como o mundo inteiro. Seu destino era reinar e o faria mesmo que fosse pela força bruta. Não sabia exatamente como deveria fazer aquilo, mas com o tempo descobriria. Se esforçaria mais que qualquer um e subirua acima de todos.

Eu vou ser o Rei de um novo mundo. Um mundo dourado.

♦

A melhor parte de ser emancipado era poder fazer qualquer coisa mesmo ainda tendo apenas dezessete anos. Então, quando as várias pessoas fitaram-no incrédulos enquanto estacionava o porsche conversível dourado (que Michiyo havia pego aleatoriamente na garagem da Torre Mihashira) em frente ao bar da HOMRA, o garoto apenas agitou os cabelos e sorriu. Talvez estivesse agindo como um playboy, mas... na verdade, ele era um playboy. O mais rico do mundo, provavelmente.

Visualizar o bar da HOMRA não era o mesmo que visualizar a Torre Mihashira. O bar lhe parecia aconchegante e acolhedor, não apenas imponente e inalcançável, como a torre. Podia sentir o comfortável calor que emanava dali. Depois de tantos anos, seu cachecol o havia levado ali. Nunca, nunca havia perdido o caminho de casa, afinal.

Apesar da expressão calma e confiante no rosto, Michiyo estava explodindo por dentro. Eram tantas emoções e aquela mensa sensação que vinha sentindo o dia inteiro. Eram coisas demais para processar de uma vez só e a única coisa que tinha vontade de fazer era enrolar-se no cachecol vermelho até acalmar-se. Não, pensou, eu vou reencontrar a Yuzu-chan. Vamos relembrar o passado e sermos felizes como éramos antes! Com esse pensamento, abriu a porta de entrada.

Já havia anos que Michiyo vinha se preparando para aquele momento. Imaginara milhões de formas de chegar na HOMRA, encontrar Yuzu e fazê-la lembrar-se de si, mas talvez nem toda a preparação do mundo deixaria-o pronto para a situação real. O bar estava exatamente como era quando Michiyo tinha apenas cinco anos. Clássico e aconchegante, belíssimo aos olhos de qualquer um que adorasse o vintage. Caminhou alguns passos lentamente, tentando absorver tantos sentimentos até que seus olhos finalmente encontraram Yuzu.

O mundo desapareceu.

Todas as cores haviam desaparecido, misturando-se até restar apenas o branco.

E vermelho.

O vermelho mais belo e brilhante que Michiyo já vira em toda a sua vida.

A visão de Michiyo embaçou-se graças àa lágrimas, que não hesitaram em escorrer pelas suas bochechas, unindo-se aos soluços baixos. Retirou os óculos, limpando os olhos na manga do casaco, enfim levantando-os mais uma vez até vê-la. Não era um sonho. Era a verdade.

Yuzu.

Yuzu-chan... eu... — murmurou Michiyo, esperando que a garota pudesse ouví-lo, mesmo em meio aos soluços — eu voltei.
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Mensagem por Kawakami Yuzu Qui Mar 29, 2018 3:26 am

Quem olhasse para a sede do Clã Vermelho, nunca na vida imaginaria o tipo de negócio que seus Reis corriam por trás e debaixo dos panos. O bar era grande, aconchegante e acolhedor. Entrar ali era como receber um abraço caloroso de uma mãe amável, e Yuzu agradecia todos os dias por ter crescido ali, em meio ao calor gentil das chamas vermelhas. Contudo, não era igual à antes. Nos últimos anos, mudanças haviam sido feitas ali — não no bar, nunca no bar —, mas novas aquisições haviam sido feitas. Agora, as portas francesas instaladas na parede lateral davam para um estupida e ridículamente grande e luxuosa boate, e apesar daquele lugar, era como se a sede principal fosse envolto por uma magia atemporal. 

E era no universo inteiro, o lugar o qual Yuzu mais amava. 
— ♔ —


O humor de Yuzu estava péssimo. 

Geralmente, o humor de Yuzu não era o dos melhores — talvez graças à todos os problemas com o irmão, com a gangue, com a HOMRA, com Jack, era difícil manter um humor bom com tantas coisas para resolver —, e atualmente, a única coisa que fazia-a abrir sorrisos e que a carranca feia fosse retirada do rosto bonito era da presença de Nozomi; a garota fazia com que o coração da Kawakami saltitasse, e que os pensamentos ruins fossem embora. Porém, naquele dia em específico, o humor de Yuzuriha estava especialmente péssimo. Havia tido um sonho com Michiyo, e com isso, as saudades que tinha do rapaz, — apesar de não se verem à anos, o sentimento que tinha para com o garoto ainda era o mesmo — bateram em seu coração como marteladas doloridas. Fizera tudo no automático, aquela incômoda dor no peito, e uma vontade de chorar enorme. Quando encarou-se no espelho naquela manhã, as grossas lágrimas brilhantes corriam-a dos olhos sem que sequer tivesse consciência, e soube naquele momento que Michiyo também chorava. 

Por isso, quando a líder da HOMRA — e da máfia japonesa — desceu as escadas para o salão do HOMRA's Bar, ninguém sequer ousou dizer mais que um cumprimento respeitoso. Havia, com muito custo, esforço e trabalho duro, conquistado o respeito dos rapazes da gangue e da máfia, e até mesmo algumas garotas haviam entrado para baixo de sua 'asa'. Sentou-se próxima a janela, com inúmeros papéis na mão; havia decidido: afundaria-se no trabalho para ver se, pelo menos por alguns minutos, aquele aperto no peito fosse esquecido. Faziam algumas horas as quais a garota mantinha-se ali, em pé à base de café e alguns copos de vodka com energético, quando uma breve agitação fez-se presente em todo o cômodo. 

Yah! O que caralhos é essa barulheira toda?! — Perguntou para o homem no bar, que apenas deu de ombros, num gesto claro de que não fazia ideia. Por isso, a morena levantou-se, ajeitando o cachecol dourado no pescoço e soltando um suspiro, havia escolhido aquela peça sem nem ao menos se dar conta, virando-se para ir para outro canto quando de repente, aquela imagem atingiu-a com a força de um soco. 

Os papéis caíram das finas mãos, espalhando-se no chão como cacos de vidro. 

Tudo tornou-se um borrão, e um rebuliço fez-se presente em cada centímetro do corpo da moça. 

Tudo era Dourado. 

O dourado mais brilhante, e mais magnífico que os olhos de Yuzuriha haviam visto em toda a vida. 

Michi... — Mal percebeu quando as palavras deixaram os lábios num sussurro baixo. Mal percebeu quando atravessou o bar correndo, ignorando tudo e todos, e jogou-se contra o corpo do garoto, envolvendo-o com os braços em um abraço tão apertado que temeu que o machucasse. 

Mas, a saudade era tanta. 

O corpo de Yuzu tremia violentamente conforme os soluços de saudades escapavam dos lábios da pequena garota. Chorava como nunca havia feito antes, enquanto agarrava-se mais ao corpo do — muito mais que melhor amigo, muito mais que qualquer palavra poderia descrever — jovem Rei Dourado. "Michi, Michi, Michi..!", chamava, as mãos segurando-o o rosto entre os dedos, as testas coladas. 

Finalmente, depois de anos, Michiyo havia descoberto o caminho para casa. 
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Mensagem por Kokujouji Michiyo Sáb Mar 31, 2018 1:49 am

Michiyo acreditava que nunca havia chorado tanto em sua vida.

Certamente, havia chorado muito e muitas vezes, mas aquela era especial. Não era tristeza, não era dor. Chorava de felicidade. Toda a saudade e solidão que sentira nos últimos anos transbordavam através das lagrimas, dando lugar à felicidade por estar novamente com Yuzu. Nada no mundo, nada mesmo, poderia se comparar àquela sensação, e Michiyo nunca mais queria parar de sentir aquilo.

Os olhos de Michiyo focaram-se nos de Yuzu após tantos anos, não evitando o sorriso, enquanto as lágrimas ainda teimavam em escorrer pelas suas bochechas e os soluços escaparem. Queria poder gravar aquela visão em sua mente pela eternidade, afinal não havia nada que amasse mais que ver a Kawakami. Respirou fundo, tentando controlar-se. Não sabia nem mesmo o que deveria dizer e, sinceramente, achava que nem mesmo precisavam se comunicar por palavras. Seus olhos já diziam o quanto estavam felizes por se verem juntos mais uma vez.

Eu fiquei com tanta saudade, Yuzu-chan — disse á garota, logo mostrando-a o cachecol vermelho. — Não deixei de pensar em você em momento algum e, bem, você estava certa, eu encontrei o caminho de casa. Dessa vez eu não vou ir embora.

Era verdade. Não importava o que acontecesse, nunca mais iria embora do Japão. Aquele país era o seu lar, a pessoa mais importante para si estava bem ali e seria lá que alcançaria os seus sonhos. Os clãs começaram no Japão e terminariam no Japão, pelas mãos de Michiyo. Entretanto, não queria pensar naquilo agora. Havia acabado de chegar e reencontrado Yuzu, precisava aproveitar melhor aquele momento.

Mas quem disse que seus ouvidos deixaram?

Perdeu a concentração de Yuzu por alguns segundos, focando-se na televisão que havia no bar, ligada no noticiário local. Demorou alguns segundos para processar o que ouvia, mas assim que compreendera, sentia que havia sido atingido por um soco. Não, um soco seria modéstia. Fora atropelado por um caminhão. Não estava surpreso de saber que a J.U.N.G.L.E. estava envolvida com o tráfico de drogas, afinal, Michiyo havia estudado e espionado todos os outros clãs secretamente nos últimos anos, entretanto, Kawakami Kyouma, seu amigo de infâcia e irmão de Yuzu ser líder do clã verde era uma novidade para o Kokujouji. E agora ele estava sendo preso pela Scepter 4. Os olhos castanhos vidraram-se na televisão e as pernas fraquejaram. O que havia acontecido naqueles anos.

Yu-Yuzu-chan... é o Kyouma-kun — murmurou atônito, fitando a garota. — O que houve? Como ele é líder da J.U.N.G.L.E.? Kyouma-kun é vermelho...
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Prólogo: A Estrada de Tijolos Dourados; Empty Re: Prólogo: A Estrada de Tijolos Dourados;

Mensagem por Kawakami Yuzu Qua Abr 04, 2018 11:37 pm

Um longo suspirou escapou-se dos lábios avermelhados da Kawakami. O choro ainda corria-lhe em forma de grossas e brilhantes lágrimas que passeavam pelas bochechas rosadas e pingavam no tecido do cachecol dourado que adornava-a o pescoço. Chorar era uma sensação nova e praticamente desconhecida para a garota — afinal, havia crescido num lugar onde fracos não eram permitidos, e o choro era uma demonstração de fraqueza —, e alguém na posição de Yuzuriha não tinha a permissão de demonstrar sentimentos tão abertamente, não aquele tipo. Yuzu sentia que vivia num eterno jogo de pôquer, onde precisava manter-se nula, e sentia-se também falhando miseravelmente na missão. Ela era como as chamas de um incêndio. Como um vulcão em erupção. 

Porém, naquele momento, era como se fosse apenas brasa. Brasa amanssada pelos braços de Michiyo, que a segurava tão forte quanto os próprios braços mantinham o aperto ao redor do corpo do rapaz. Estar ali, naquele momento, fazia-a ter a sensação de que algo em si que a muito havia perdido-se, como se uma parte que faltava na própria alma, no próprio coração, houvesse retornado para casa. Só naquele momento percebera que a pequena dor entre as costelas — uma sensação de alfinetes à espetando todos os dias — havia desaparecido. Michiyo estava de volta, e aquilo era tudo que importava no mundo. 

Não existem palavras no mundo para te dizer o quão eu senti sua falta, Michi-kun. — Os olhos dourados focaram-se no cachecol vermelho. Lembrava como se fosse ontem do dia em que o entregara para o mais novo, e um enorme sorriso pintou-se nos lábios da garota, que finalmente, havia encontrado um pouco de paz em meio à tormenta que vinha enfrentando no último ano. Era tudo tão doloroso. — Se você ir embora, dessa vez, eu posso ir atrás de você. — Retrucou de forma carinhosa, a testa encostando-se na do rapaz, as finas mãos segurando-o o rosto com carinho. Não havia nada além de pura inocência e um amor imensurável naquele toque, suave o suficiente para fazê-la parecer como a chama quente de uma fogueira. Não queimava. Aquecia. 

E no mesmo segundo em que Michiyo desviou os olhos vermelhos para a televisão, os dourados de Yuzu fizeram o mesmo, encarando a tela do aparelho com uma incredulidade tangível, a expressão fechando-se cada vez mais. 

Havia sido como ver a tempestade formando-se no céu azul. 


A respiração escapava dos lábios de Yuzu com uma lentidão controlada. O corpo todo da garota estava tenso, e qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade ou empatia possível era capaz de perceber o clima tenso e desestabilizado formando-se ao redor da Kawakami. A cabeça baixa escondia os olhos da menina, que agora, tinha as unhas bem feitas enfiadas na carne da palma das mãos, os filetes carmesim pintando o chão perfeitamente branco com seu escarlate assustador. 

E quando o rosto da moça se ergueu, não havia duvidas: Kawakami Yuzuriha era o Rei Vermelho. As chamas de fúria e ira incontroláveis eram quase palpáveis nas íris tão escuras e quentes como ouro derretido, como se fogo celestial corresse pelos olhos que abrigavam um universo inteiro de caos e destruição. 

A destruição da família. 

A destruição de um mundo que conhecia. Da confiança que tinha. 

E principalmente, a destruição de Yuzu. 


O primeiro ruído soou absurdamente alto no meio do silêncio sepulcutural que havia se instalado no HOMRA's Bar. A televisão havia sido mutada em algum momento, e nos segundos que se corriam, talvez nos minutos, nem mesmo Michiyo era visível para a rainha, que via tudo apenas pintado de vermelho. O vermelho do fogo que corria-a as veias, queimando dolorosadamente aquela raiva que fazia-a mover-se. 

A mesa que anteriormente abrigava os papéis e copos de Yuzuriha havia sido tombada, e com um grito animalesco, coisas começaram a voar cegamente pelo cômodo, enquanto a voz da líder do clã Vermelho xingava em todas as línguas que conhecia. O inglês misturando-se ao japones, e ao coreano, e francês, e português e todas as outras línguas que conhecia se misturavam como um caleidoscópio, todas as ofensas e palavras de ódio vinham-a com a força que raios partindo árvores ao meio e causando um incêndio. 

Maldito! Maldito seja! — Berrou, os dedos apertando um copo com tamanha força que o objeto partiu-se no meio, os cacos se enterrando na pele alva e bonita da moça — Por quê?! Por quê?! Ele... Ele..! — E como um flash, a imagem do rapaz albino atravessou-lhe os olhos, e a expressão fechou-se ainda mais. 
Yuzuriha estava entrando em erupção em força total. 


Atravessando o recinto, os dedos agarraram com força o aparelho de telefone — que em algum momento entre os xingos, praguejos e objetos sendo lançados pelos ares — havia sido lançado do outro lado do bar. Os dedos tremiam enquanto discava o número que muitas vezes não havia tido coragem de ligar, a respiração ofegante. A adrenalina era tanto que Yuzu sequer percebia a dor que sentia. 
Uma, duas, três, oito, dez vezes. 



E aquele maldito não havia atendido. 


Novamente algo voou pelo recinto — uma garrafa, estraçalhando-se contra a parede com um grito de puro ódio —, enquanto, novamente, pela última vez o número era rediscado. 
Não conseguiu sequer esperar que a voz do outro lado chegasse-a aos ouvidos. 

JIN WOLFGANG. — O nome que nunca era dito escapou pelos lábios com uma intensidade sombria — SEU MALDITO. SEU RESTO DE LIXO. SEU..! SEU MALDITO ESTÚPIDO! — As palavras saíram sem que pudesse controlá-las — ONDE VOCÊ ESTÁ, SEU MALDITO?! ONDE VOCÊ ESTÁ?! O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO DE TÃO IMPORTANTE QUE NÃO ESTÁ PROTEGENDO KYOUMA?! — Berrava, a dor era praticamente tangível, vazando de dentro do peito da garota com fúria — ONDE VOCÊ ESTÁ QUE NÃO ESTÁ CUMPRINDO A MERDA DO TEU TRABALHO!? EU AVISEI! EU O AVISEI! EU DISSE PARA KYOUMA QUE VOCÊ ERA UM IMPRESTÁVEL. QUE VOCÊ ERA UM... UM... UM MALDITO MENDIGO QUE NÃO MERECIA A PIEDADE DELE! — As ofensas eram como facas de dois gumes, feriam a Yuzu ao passo que saíam desenfreadas no meio ao ataque de fúria — VOCÊ É TÃO IMPRESTÁVEL QUE NÃO PODE FAZER A ÚNICA COISA QUE EU TE PEDI, E AGORA KYOUMA ESTÁ PRESO, JIN. PRESO, VOCÊ ME OUVIU? — Perguntou num rugido, os dedos apertavam tão forte o telefone, manchando o aparelho de escarlate — Se algo acontecer com meu irmão, Wolfgang, eu juro... Eu vou te caçar até que a sua cabeça esteja na minha mesa e seu coração num vidro no meu quarto.
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Mensagem por Kokujouji Michiyo Sex Abr 06, 2018 12:08 am

Kawakami Yuzu tinha o dom estupendo de susperar com esplendor todas as suas expectativas. E olha que não foram baixas. Há anos se preparava para aquele momento, onde finalmente a reencontraria, mas de todas as inumeras possibilidades e impossibilidades que passaram pela sua cabeça, ver Yuzu destruindo o bar da HOMRA com as próprias mãos... nem pensar.

Os olhos por trás dos óculos acompanhavam a destruição causada pela garota em fúria. Conseguia sentir perfeitamente o clima pesando sobre os seus ombros e a agonia pelos ferimentos causados em si mesmo. Não gosta nem queria vê-la daquela forma, mas o que poderia fazer? Como poderia confortá-la? Havia acabado de chegar e a notícia sobre Kyouma o havia atingido com tudo. O que acontecera na HOMRA nos últimos anos? Certamente sabia o que ocorria por baixo dos tapetes do Clã Vermelho, mas Kyouma ser um Verde lhe pegara de surpresa.

Era errado. Sujo. Repugnante.

Acompanhou a garota enquanto esta realizava a ligação. Jin Wolfgang. Não sabia por quê, mas tinha certeza de que deveria gravar aquele nome em sua mente. Aguardou esta terminar e assim que a chamada encerrou-se, Michiyo certificou-se de retirar o aparelho das mãos da rainha e jogá-lo longe. Já estava tudo quebrado mesmo, não faria diferença alguma. Segurou os braços da melhor amiga e aproximou o rosto do dela, mantendo contato visual constante. A expressão no rosto do garoto era séria e calma. Tinha de manter-se firme para ela.

Yuzu-chan, mantenha a calma — disse em um quase sussurro, pausadamente. — Eu não sei o que acoteceu, mas eu não vou deixar que nada aconteça ao Kyouma-kun — prometeu.

Desceu as suas mãos até as da garota, fazendo-as voltearem para cima enquanto fitava os ferimentos causados pelas próprias unhas e cacos de vidro. Retirou um lenço do bolso e as limpou rapidamente, sentindo o peito apertar constantemente. Não suportava ver Yuzu daquele jeito e era exatamente por isso que havia retornado para o Japão. Tinha de tomar o mundo para si, torná-lo a utopia de seus sonhos. Somente assim teria paz e poderia vê-la sorrir eternamente. Tinha o dever de dar um mundo melhor à pessoa que lhe dera um motivo para viver.

Vamos à sede da Scepter 4 e farei tudo o que estiver ao meu alcance para tirar Kyouma-kun de lá — afirmou. — Eu sou o Rei Dourado, afinal, não há quem possa combater o Tolijikuin. — Terminou com um sorriso. — E a nova decoração ficou bem selvagem agora. Gostei mesmo. Você tem talento.
Kokujouji Michiyo
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Prólogo: A Estrada de Tijolos Dourados; Empty Re: Prólogo: A Estrada de Tijolos Dourados;

Mensagem por Hisakawa Nozomi Sex Abr 06, 2018 10:20 pm

O barulho da moto ecoava pelos bairros da cidade, com a garota dirigindo-a em alta velocidade tranquilamente. Nunca havia dirigido um modelo como aquele, mas depois de alguns segundos em cima dela, entendeu-a completamente. Estacionou ao lado do bar, no estacionamento dedicado aos clientes do estabelecimento.
  Vou entrar e não sei se demoro. Se quiser, pode esperar aqui. 
Comentou para Aaron, retirando o capacete e pendurando-o na moto. Ajeitou o cabelo, olhou-se no espelho do guidão e arrumou um pouco da maquiagem, que havia borrado pelo choro de antes. 

Entrou no bar olhando aos redores, nunca imaginaria que estaria ali por conta própria, muito menos para ver Yuzu. Deparou-se com cacos de vidro e papeis de parede rasgados, deixando-a cada vez mais paranoica. Correu os olhos pelo recinto, parando em cima de duas silhuetas, uma que conhecia extremamente bem e outra levemente familiar. Via os pequenos pingos de sangue no chão, encarando a garota com enorme preocupação. Lentamente movia-se para perto dos dois, apavorada.

  ... Yuu-chan? 
Sussurou, segurando as lagrimas novamente.
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