» PROLOGUE « The Silver Ones

Voltando a prestar atenção no presente, Nozomi voltava seu olhar para Aaron, inspirando de maneira ligeiramente súbita e com uma expressão levemente confusa. 

— Sim? Ah, não... Não, quer dizer.  — Coçou a nuca, procurando palavras. — Sim, estou bem, e não, não estou cansada. 

Ficou alguns segundos o encarando, esperando uma resposta, até começar a rir de si mesma.

— Fiquei recordando de algumas coisas de quando éramos crianças... Pouco do que me lembro de quando recém havia entrado no orfanato. — Arrumou uma mecha de cabelo que estava solta, colocando-a para trás da orelha. — E... não me sinto cansada, mas me sinto meio estranha. Não sei explicar, é mais como um nervosismo e um borbulho na barriga. 

Pegou a xícara de chá que havia deixado em cima da mesa, agora olhando em volta pela cidade.  Estavam sentados em um pequeno café, acompanhando um ao outro. Suspirou, lembrando que Jack havia prometido almoçar com eles mas nunca chegou a confirmar se viria. 

Com isso, voltou aos seus pequenos devaneios, relembrando-se de como o albino a odiava durante alguns anos, algo que ela achava incrível, afinal sempre recebera um tratamento especial de quase todos que habitavam o orfanato. Claro que não gostava de ser tratada mal, mas sentia que era seu dever fazê-lo se abrir com pelo menos alguém. Sentia pena de vê-lo sozinho. 

Mas, agora analisando, talvez fosse apenas medo de tornar-se como ele. As amizades que tinha além de Aaron - que, para ela, logo tornou-se um irmão - eram extremamente falsas e forçadas, e acreditava que, se não fosse pelo mesmo, ficaria sozinha e facilmente irritável assim como o pequeno Jack. 

Sorriu de volta ao notar a expressão do rapaz, sempre achou o sorriso de Aaron muito bonito, e, como era algo levemente raro, sentia-se extremamente especial ao presenciá-lo.

Riu, envergonhada por estar levemente nostálgica e pelo fato de que ele conseguia lê-la facilmente, algo que não era difícil para quem cresceu junto dela. Sempre fora muito aberta e raramente esconde coisas, é praticamente um livro aberto.

Fechou um pouco o rosto ao ouvir o comentário sobre seu pai, nunca foi muito curiosa sobre ele, sequer vê interesse em saber mais de alguém que abandonou tanto ela quanto Aaron. Apenas sabe coisas aleatórias que o rapaz comenta uma vez ou outra. Não sabe nem o nome.

Sorriu, novamente, com o concelho do rapaz. Aaron sempre falava exatamente o que ela precisava ouvir em momentos como este, algo que sempre foi muito grata por. Logo, encheu os olhos d’água ao ouvir que o mesmo sentia orgulho dela.

— Vou tentar me preocupar com o futuro ao invés do passado. Não que tenha sido horrível, eu tive vocês e bastante amigos como o Michiyo e a Yuzu… - corou de leve, lembrando que Yuzu está mais para um crush de infância do que apenas amiga - … enfim, não sei porque me sinto estranha. Talvez eu esteja ficando gripada.

E riu, levando a xícara de chá até a boca novamente.

— Você tem algo planejado pro resto do dia? Eu me dei um dia de folga hoje.

Ela sorriu, dando mais um gole em seu chá enquanto o rapaz a respondia.

— É justamente o fato de que não tenho algo em mente que resolvi perguntar, pensei em passar o dia com um de vocês... Mas o Jack ultimamente anda muito ocupado, então sequer cheguei a perguntar pra ele.

Encarou sua xícara, contornando seu topo com o dedo indicador, levemente triste.

— Posso invadir sua maratona de dorama? Prometo que fico quietinha…

Encarou-o com um olhar de cachorro pidão, enquanto relembrava do pequeno discurso que ele recém havia feito.

— E… De onde você tirou aquilo de “demônios do passado”? Achei poético. 

Riu, ainda meio cabisbaixa.

O rapaz a respondeu de maneira nítida e direta, um "não vou ir" extremamente claro. Seu olhar tornou-se cabisbaixo, pelo fato de que ele não iria vir e que cada vez mais parecia que ambos estavam se afastando. Ao abrir a boca para respondê-lo, ouviu o celular do irmão cair no chão, seguido de barulhos dos quais não conseguia identificar a causa.
— Alô?! Jack? Tudo bem? Jack?? 
Clamava pelo mesmo até ele voltar ao telefone, soltando um suspiro aliviada. Não sabia o que estava acontecendo na vida do albino, mas não era burra de não saber que alguma coisa estava acontecendo. Vivia preocupada pelo rapaz.

— Sem problemas... Eu e o Aaron estamos no restaurante de sempre, se, por um acaso, sobrar um tempinho para que você possa almoçar conosco o convite ainda está de pé, ok?

Conversava em um tom carinhoso, da maneira que sempre fizera com ambos os meninos. Eram sua única família e sempre os queria bem e por perto, mesmo sabendo que isso provavelmente não seria possível.

Ela encarou Aaron, processando a sugestão que ele havia feito. Nunca sequer aventurou-se em tentar procurar mais sobre a vida de Jack, ou de tentar ajudá-lo em qualquer coisa, afinal o mesmo nunca pediria por ajuda ou mostraria qualquer sinal de fraqueza. Suspirou, fechou os olhos procurando o menor pingo de coragem que teria dentro de si e decidiu perguntar. 

Arregou de leve, mas pelo menos tentou. 

-Nozomi-nee. *-Estacionou ali mesmo e saiu da moto tirando o capacete verde que usava, ele que combinava com seu conjunto de motoqueiro que estava usando, algo em preto com detalhes em verde que o faziam parecer mesmo um membro da JUNGLE. Desceu da moto, abriu o compartimento para deixar ali dentro a sacola que cobria a caixa que estava carregando consigo e fechou para na sequencia seguir até a irmã mais velha em passos ligeiros.*

-A... *-Ao lembrar-se do que foi dito para si ele nem sequer conseguiu pronunciar o nome daquela garota, era como se a magoa contida em si para evitar o pranto estivesse tão forte e tão sufocante que não consiga nem mencionar, realmente aquilo havia o abalado por mais que ele não demonstrasse direito.*

-Eu preciso que você venha comigo, use isso. *-Bem, ele havia vindo de moto então era obvio que não havia espaço para trés ali, foi proposital? Talvez sim, talvez não, ficaria em aberto se Jack sacaneou Aaron ao vir com um veiculo que cabe apenas duas pessoas, obviamente o excluindo. Jack ofereceu o capacete já estava todo configurado com as informações cedidas por Jane, então quando Nozomi o colocasse, iria ver o mapa da cidade em miniatura ao qual como um GPS dava o destino final daquela viagem que era o Bar da HOMRA*

-Não íamos de três e sim de dois, não há necessidade do Cão vir conosco, deixe-o ir para casa ver mais um episódio daqueles Doramas. *-Estranhamente ele falava diferente, estava brando, quase como se estivesse falando mais pelo bem de Aaron do que para provoca-lo mesmo, chegava a desviar o olhar e estreita-lo um pouco, afinal, só foi até Nozomi porque sabia que ela poderia acalmar Yuzuriha, mas depois disso... O que poderia fazer? Não, seu dever era apenas reunir as duas para que tudo melhorasse.*

-Eu pensei melhor... Nee-san, vá com a moto, vocês vão chegar mais rápido assim furando o transito, Yu... Yuzu precisa de você mais do que nunca agora, ajude ela. *-Acabou empurrando com cuidado o capacete de volta para a albina e suspirou uma vez mais, provavelmente não conseguiria olhar para Yuzu depois de ter falhado em sua unica missão permanente na vida, mas como iria saber que Kyouma havia ido para outro lugar senão o ponto de encontro que haviam combinado? Parecia ter sido algum tipo de cilada, mas quem mais conseguiria faze-lo mudar de rota?*

-Malkav... *-Aquelas palavras e a forma estranha como ele reagiu ao assunto, só podia ser ele, mas porque agora? Porque dessa forma... Sim, Jack sabia, o Rei Verde estava morto então para impedir a ascensão de Kyouma, essa foi a decisão mais sensata.*

-Você é uma motorista melhor do que eu, vai tirar de letra mesmo nunca tendo pegado numa moto como aquela, nunca pegou não é mesmo? Preciso ir a outro lugar agora. *-Talvez pudesse usar os últimos minutos que tinha para tirar tudo a limpo com seu melhor amigo. Colocou as mãos dentro da jaqueta para esconder o apertar dos punhos, suas feridas abertas começavam ser mais desconfortáveis do que imaginou.*

-Não se preocupe com o carro, confie em mim, e sobre a Yuzu, conhecendo ela, provavelmente deve ter se machucado e por estar com raiva não vai ouvir ninguém, nem os paramédicos, tem que ser você a fazer isso,  deixei um kit de primeiros socorros dentro do banco da moto, use-o se preciso, aqui estão as chaves, não se esqueça do quanto eu amo você, Nee e vá depressa antes que tudo possa piorar. *-Pegou uma das mãos dela e deixou a chave, a beijou duas vezes no rosto como um cumprimento qualquer e simplesmente saiu andando sem olhar para trás, realmente não tinha tempo a perder já que a qualquer segundo seus perseguidores simplesmente poderiam encontra-lo e sabia que um deles era Madalena que sem duvida alguma saberia seus passos mais óbvios como os que o levaram de encontro a Nozomi, nisto, não podia subestimar a velocidade da negra de chegar até ali e pega-lo com a mão na massa e leva-lo de volta a Cathedral para seu julgamento que seria sem duvida alguma pena de morte.*

-Nee... *-Apenas a viu esvoaçar aqueles cabelos prateados e seguir em frente até sua moto junto o moreno e mesmo sendo uma cenas simples, aquilo o fez estreitar o olhar e tomar aspecto sofrido na face, porque tudo tinha que ter sido daquele jeito? Porque tudo estava dando tão errado? Poderia até mesmo chorar senão fosse a ideia de que provavelmente, pelo menos, Yuzu e Nozomi estariam bem juntas, pelo menos um alivio para sua mente que estava um turbilhão de confusões. Deu as costas e seguiu caminhando rumo seu destino final já podendo sentir que em breve seu dia iria acabar e poderia descansar mesmo que para sempre, porém, o olhar de sua irmã... Podia mesmo aceitar ser executado por seus crimes? Isso iria deixa-la infeliz, faze-la sofrer, mas ela teria Yuzu e Aaron ao seu lado, então talvez não fosse tão ruim, isso iria uni-los de alguma forma, certo?*

-Talvez eu não deva me preocupar com isso, preciso me focar em libertar o Kyo. *-Seu celular tocou e viu que era sua guardiã, bem, ela provavelmente o ajudou a escapar ao manter Daniel ocupado, do contrário não teria saído de lá e ido até ali, consequentemente confiava nela o bastante para atender sem hesitação alguma.*

-Oi? *-Voltou ao seu tom normal de sempre graças seu treinos na Cathedral que foram bem similares aos de Madalena, algo que os ensinou a ter um controle muito forte de suas próprias emoções a ponto de não se abalarem com facilidade... Mesmo que atualmente ele só queira beber muito álcool e afogar a cara em um travesseiro como costumava fazer quando ia pra farra com Kyouma. Aproveitando o momento, Jack já ia fazendo "pedidos" como Rei Verde para a JUNGLE para conseguir um novo kit de primeiros socorros, maçarico e um veiculo para ir mais rápido apesar de já estar sentindo a fraqueza de seus ferimentos abertos começar a ficar mais acentuada. 

"-Maldição, eu não deveria ter dado o kit para a Nozomi cuidar da Yuzuriha sem ter certeza do que houve, onde eu estava com a cabeça?" *-Já começava a parecer alguém doente já que suava frio e seus fios pálidos acabavam ficando úmidos e sua expressão facial também não era la a das melhores, seria até mesmo possivel ver as manchas vermelhas abaixo dos esparadrapos senão fosse a grossa roupa de motoqueiro que estava usando.*

-Estou voltando para a JUNGLE, e-eu... Preciso encontra-lo, vou te passar a localização pelo celular...

-Não se preocupe com isso, eu tenho uma... Uma... Pequena fada verde que vai cuidar disso para nós, venha rápido... *-Os pés perdiam mais a firmeza chegando ao ponto de abandonarem o albino que caiu no chão e ficou ali deitado como um indigente, seu corpo agora estava cobrando o preço dos exageros que cometeu ao combater o Rei Verde e seguir caminhando como se fosse nada, e isso somado a sua mente abalada, estava impossível manter-se de pé.*

-Não vai... Ela está...Vendo. *-Os olhos seguiam abertos, mas o brilho ia escapando deles ficando totalmente "escuros" e agora o albino ficava ali caído em silencio olhando para o nada. Apesar de nesse estado, ele permanecia consciente por algum milagre e graças a isso seus olhos podiam descer até o celular ainda ligado com sua guardiã do outro lado da linha, ela que depois de alguns segundos simplesmente desligava.*

Em atual momento, perambulava por meio às ruas, parecendo estar atentou ou na busca de alguma coisa. Há algum tempo que o seu superior, Daniel, havia ordenado à ele e a outros de mesmo escalão para que mantessem seus olhos atentos nas ruas, para que procurassem por Jack. Ele já havia desaparecido do radar do paladino tem um tempo.

Milo não estava mantendo o foco em sua tarefa. Na verdade, ele estava mais era procurando por lojas de action figure. Não tinha dinheiro para comprá-las, mas apreciar é sempre de graça. No entanto, por ironia do destino, ou mesmo por uma simples coincidência, pôde ver uma figura familiar - bastante, por sinal - estirada no meio de um beco aleatório. Apesar de seu nome estar na ponta da língua, o garoto simplesmente não conseguia se recordar direito de quem se tratava. Observava-o parado. 

— Jack Ketch... — Como se estivesse em transe, dizia sem perceber o nome que tanto tentava lembrar. Espera. O quê?

— ...Caralho! JACK! — Depois de se tocar, correu rapidamente em direção ao rapaz jogado no chão. Procurou ir socorrê-lo o mais ligeiro o possível. Vendo a maneira de como seus olhos estavam abertos e estranhos, pensou primariamente que tinha se drogado ou bebido demais. Mas ao ver como ofegava, juntamente à vermelhidão que cobria as suas vestimentas, percebeu que era bem pior. Surpreendentemente, alguém tinha feito um estrago nele. Ou isso, ou um acidente automobilístico.

— ...Mas quem poderia ter sido? — A primeira coisa que fez foi pegar o celular que jazia próximo à mão do albino, contatando novamente a última pessoa que havia ligado e tentando informar a situação e o local onde ocorria o mais breve o possível. — Que a Cathedral me perdoe por tocar nesse cara. — Suspirou. Depois, prosseguiu para averiguar as suas feridas e procurar por algo que lhe auxiliasse a conter aqueles ferimentos. Achou um kit médico...

Tinha travado de tanto nervosismo. — ...Eu não faço a menor ideia de como fazer os procedimentos emergenciais... — Mas na verdade, tinha um pouco de ideia de como prosseguir, sim. Buscou refazer as ataduras que já estavam ali, estancando os ferimentos da maneira mais improvisada já existente na história.

Buscou manter o homem consciente com breves tapas em seu rosto. Sua feição estava desesperada, não pela possibilidade dele poder ser esquartejado pelos seus superiores depois, mas sim pela possibilidade da Cathedral perder uma pessoa tão importante devido à sua inexperiência. Poderia ser esquartejado de um jeito ou de outro, então talvez quaisquer uma das situações tenham o mesmo impacto.

-... *-Os olhos amarelos de Jack fitavam Milo com a desconfiança de que ele iria leva-lo para as mãos daquele loiro desgraçado, logo, o albino ali caído se dispôs a seguir ali parado para ter seus ferimentos tratados e então atacar quando tivesse mais força para poder fugir, ou ao menos, iria esperar por Madalena para escapar dali ileso, mas tinha que esperar, ser paciente para conseguir o necessário para revidar.*

-Você não sabe... Costurar, certo? *-Sem sua jaqueta e camisa ao qual provavelmente foram retiradas para que os ferimentos pudessem ser cuidados -restando então apenas a cruz prateada em volto do pescoço-, Jack expunha seus ferimentos para Milo que apesar de não serem tantos -muitos já eram cicatrizes-, eram o suficiente para causar todo aquele problema. Com o peito amostra a cintura tambem estava e nela havia uma faca anexada ao cinto que o rapaz pegou tremendo e ofereceu ao outro.*

-Tape minha boca e use isso... Ligue... *-Engoliu ar a seco para ter forças para falar, precisava se concentrar para poder fazer aquilo mesmo que sem perfeição alguma, afinal, era aquilo ou nada e precisava daquilo para estancar seu sangramento já que simplesmente deixar ataduras por cima não iria resolver seu problema.*

-Ligue o maçarico, aqueça essa faca e as passe sobre meus ferimentos abertos, isso vai estancar o sangramento, vamos, não se preocupe comigo, e-eu vou ficar bem... *-Em casos normais ele iria exigir um tratamento mais rápido ignorando os possiveis receios daquele que o ajudava, mas dada a situação onde dependia exclusivamente daquele novato, teve que baixar a bola e manter a humildade.*

Quando Milo ouviu a pergunta realizada por Jack, entrou em choque. Completamente nervoso, ele somente assentia com a cabeça, mesmo sem ter a menor ideia de como costuras funcionavam. Desistiu de tentar convencê-lo disso, mudando a sua resposta logo depois e então gesticulando negativamente com a cabeça. Mas que decepção.

Portanto, depois que lhe foi obtida uma resposta, o albino prosseguiu para orientá-lo com um método diferente. Mas este método foi o suficiente para voltar a ficar aterrorizado. E se descobrissem que queimou uma faca e a apoiou em cima de ferimentos abertos? Isto até poderia ser procedimento para fechar ferimentos, mas mais parecia com um método de tortura.

Mas sem pestanejar, o garoto prosseguiu para pegar a faca e esquentar a sua lâmina com o maçarico. De mãos trêmulas, segurava a faca com uma enquanto a outra vedava a boca do "paciente", auxiliado por uma faixa para que não houvesse contato direto com a pele dele. Por estar um pouco mais nervoso do que o comum, a mão que lhe tapava estava exagerando um pouco na força.

— F-Fica esperto, que vou passar a faca agora. — Disse, sem perceber que poderia parecer rude. Ele então começou a apoiar a faca fervente em cima dos ferimentos ainda abertos do albino, parando somente quando estivessem estancados.

-... *-A mão que apertava sua boca o impedia de falar, então o albino so acenou positivamente com a cabeça e sem duvida alguma não havia uma unica gota de medo em suas expressões, parecia já ter nascido pronto para aquele momento. Com a lamina quente indo até seus ferimentos a imensa dor da queima vinha e por causa dela Jack berrava pela dor, feito abafado pelo palmo de Milo, e nesse momento de dor o rapaz só conseguia se lembrar das palavras de Yuzuriha que faziam seus olhos estreitarem e lacrimejarem, mas logo que uma nova dor surgia as palavras ficavam mudas e uma chama de insanidade se ascendia, uma forma defensiva dele se ver livre das dores da alma, intensificando então a agonia do corpo gerando um sentimento masoquista que o fez sorrir e começar a dar risada aquela situação como se fosse um lunático*

-... *-Com todos seus ferimentos já cuidados e com aquela garota longe de sua mente, Jack pegou o pulso de Milo com força chegando no ponto que parecia que os ossos dele iriam quebrar com aquilo e devagar o albino foi afastando a mão do moreno de seu rosto, expondo então seu sorriso macabro devido a combinação dele estar aberto junto o olhar totalmente sem brilho ou vida daquele garoto que parecia ter tirado toda aquela força do nada.*

-O-bri-ga-do! *-Disse de forma sádica e simplesmente abriu a boca e avançou contra a mão que estava segurando a mordendo com tamanha força que atravessou a carne e acertou os ossos fazendo jorrar uma quantia enorme de sangue daquele que havia vindo o ajudar, ele que talvez estivesse arrependido de seu ato, todavia, ele podia notar que conforme o sangue ia descendo goela abaixo daquele louco, o brilho nos olhos dele ia voltando e as cicatrizes de queima iam melhorando, mesmo que bem aos poucos*

     Estava sutilmente ansiosa para saber o que havia acontecido com Jack, seu fim de ligação não tinha deixado explicações nada satisfatórias apenas duvidas e preocupações e por mais que pensasse no que faria caso o encontrasse morto, ela sabia de uma coisa: precisava dar um jeito de retornar o sangue dele ao corpo sem que ninguém visse, seria problemas de mais se alguém além dele soubesse, mas agora não tinha muito o que fazer apenas seguir o caminho marcado no celular mesmo já sabendo seu destino, conhecia aquela rua então não tinha como se perder.

    O caminho mais rápido era pela praça e como estava num taxi ela já sabia o valor da corrida pois havia dito para o motorista que daria uma quantidade bem gorda de dinheiro caso ele fizesse o caminho que havia pedido, e como ele era o malandrão acabou fazendo, passando o caminho certo para que chegasse em Jack, e estando bem próximo ela já dava o sinal para o motorista parar, no instante que ele parou ela jogou o dinheiro amarrado em um elástico sobre as pernas dele e nisso ela saiu, olhando o celular ela pode ter certeza onde ele estava, ela apressava seus passos para ir até sua localização enquanto o Taxista agradecia pelo dinheiro; chegando em seu destino via Jack sentado sendo ajudado por um outro Membro da Igreja, agradecia a Deus fazendo um sinal de cruz com a mão e beijando os dedos no final, ela corria em direção a Jack. - Jack! - Não gritou mas elevou sua voz com certa surpresa, a garota que tanto vivia de inexpressão finalmente fazia algo com alguém próximo da mesma coligação, então ela olhava diretamente para eles e finalmente perceber o que estava acontecendo... Ela não expressava nada, não conseguia pois já compreendia o que acontecia vendo os dois se atracarem? Não era Jack atacando Milo, a expressão de dor dele, compreendia a expressão de dor dele que seu passado a condenava mas não aos olhos de Deus. Por isso laçou os braços no corpo de Jack e o puxou fazendo-o sair de cima do rapaz, ela o segurava firme falando. - Jack, volte a si. É Madalena aqui! JACK! - Sim, elevava sua voz mesmo não expressando como deveria porém sua voz passava tudo que queria.

A cada ferida que era estancada com a faca fervente, era um grito arrancado do albino. Apesar de inicialmente não parecer algo tão impactante assim, para Milo, aquilo era praticamente horrorizante. Ser obrigado a passar uma faca quente em uma pessoa - um superior, principalmente - era uma situação que não lhe agradava nem um pouco.

Pensou que o nervosismo iria embora com o fim do show de gritos abafados, mas ele somente se intensificou muito mais ao ver Jack segurar-lhe pelo pulso, apertando-o com uma força gigantesca. Estava praticamente prestes a se cagar de tanto medo.

No entanto, aquela não teria sido nem a pior parte. Ver a sua mão ensanguentada e com uma dor imensa teria lhe feito praticamente se arrepender de ter saído de casa hoje. Não gritou, até porque não conseguiria. Depois de ter sido separado do maluco por outra pessoa, a quem julgava também ser parte da Catedral, apenas manteve-se caído no chão em posição fetal. Murmurava e lacrimejava devido a dor.

-...? *-Sussurrou o nome dela para que apenas ela pudesse ouvir e a olhou tombando a cabeça para trás a deitando nos seios da mulher e bastou breves segundos para que o albino fechasse seus olhos, tomando aspecto de uma criança inocente apesar dos ferimentos que o cobriam o corpo e sua boca manchada de sangue.*

-Você demorou... *-Estava tão manso que nem parecia mais o mesmo garoto. Jack agora tinha sua mente limpa dos pensamentos que estavam o matando por dentro, seu foco agora era outro e esse se resumia a encontrar Jane para questiona-la sobre o caso de Kyouma, então antes de mais nada precisava chegar lá primeiro.*

-Aquele garoto... Eu não o conheço, mas ele parece ser um dos nossos, ajude-o e leve conosco para que ele não de com a língua entre os dentes para o Daniel, acho que estamos sendo seguidos, mas não temos mais tempo a perder, ele nos deu uma hora, não sei quanto tempo ainda nos resta.... *-O rapaz começou a se erguer devagar, iria deixar suas roupas tiradas para trás e apenas se focou em aproveitar o pouco tempo livre que tinha para enfaixar novamente seus ferimentos expostos, mesmo que as faixas ainda estivessem manchadas de vermelho, bem, parecia ser melhor do que simplesmente andar semi-nu por ai.*

-Estamos próximos, é bem ali na frente. *-Olhou para a grandiosa fabrica abandonada a sua frente e apertou a cruz prateada em seu peito, ela que estava anexada ao colar de mesmo material que ficava obviamente em torno do pescoço. Com dificuldade nos passos, o jovem seguia seu caminho rumo seu destino final, vez ou outra ele tombava para um lado e para o outro, mas não caia, seguia em frente colocando a mão na lateral da barriga, lugar onde um de seus maiores ferimentos cauterizados se encontra, a dor era agonizante e estava difícil conte-la, ainda assim, ela era muito melhor que a dor que sentia por dentro, esta que já ia passando graças a física, chegava a começar a esquece-la cada vez mais*

    Definitivamente não entendia o que acontecia diante de seus olhos amarelo escuros, Jack mudava seu estado no momento que ouviu sua voz, ouvia-o chama-la mas parecia que sua presença era um estopim para sua calmaria igual na hipnose, mas sua crença era que Deus havia parado ele e isso a acalmava de uma forma descomunal mas ainda havia resquícios disso em sua mente que despertavam quando via Jack naquele estado, os olhares se cruzavam e ela olhava para ele como uma mãe que olha para seu filho, tão levado esse garoto que era de mais para si e nada que uma simples lição não o mudasse. Não o impedia de chegar ao seu destino deixando ele se enfaixar e chegando a ajuda-lo sem se preocupar com mais nada até o albino falar sobre o garoto, o Milo, o conhecia mesmo que só vendo ele algumas vezes na Cathedral por isso quando Jack saia dali a Mão da paladina segurou no braço do garoto, a outra segurou o maçarico. - Vamos, pegue o kit que la dentro eu enfaixo para você, ficará bem, não temos muito tempo. - Mesmo falando sem muita expressão sua voz tinha o peso da ordem tanto pelo seu cargo de Paladina quanto pela altura que tinha e idade, mas bem só esperava o garoto pegar o que fosse pedido para levá-lo para onde Jack ia.

Ouvindo o que a moça que havia recém-chegado havia dito, recompôs-se e se levantou, trêmulo. Apesar da dor estar insuportável, Milo não hesitou em seguir as ordens de uma pessoa que fosse capaz de acalmar Jack daquela forma.

Apesar desta parecer conhecê-lo, ele não fazia a menor ideia de quem se tratava. Mas tinha certeza de uma única coisa; fazia parte da Catedral, e certamente era alguém muito acima do cargo atual do garoto. Prosseguiu para segurar o kit médico com a mão intacta e acompanhá-los.

— Para onde é que nós estamos indo? — Perguntou, procurando ignorar a dor. Estava ali completamente por acaso, e mesmo que tivesse cumprido a ordem de descobrir onde Jack estava, uma coisa que não sabia ainda era o que ele estava fazendo para parar ali.

    Com a ordem acatada ela começou a andar rapidamente com o garoto desejando que ele não fosse um subordinado ou vassalo de Daniel se fosse estaria com grandes problemas, mas a única coisa que saiu da boca da negra foi: - Também não sei, mas sinto que algo muito grandioso irá acontecer hoje. - Era uma sensação que desde a primeira vez que encontrou Jack sentiu e por isso não iria parar agora.