— Cinzento

por Kogami Akagi Qui Abr 26, 2018 12:11 am

"Se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti."

— Seria clichê se fosse algo recente, huh.

Entre o vermelho intenso e o verde desejado, as vezes tomado por um amarelo simplesmente irrelevante e de uma aparição breve, os semáforos alternavam-se metódicos sob o céu nublado, cinza, sufocante, e que após uma tormenta perturbadora, traz a tona a imensidão azul e imensurável que se estabelece acima de todos, como um manto perecível e sujeito à imensidão do espaço em suas estrelas de brilho prata, que brilham tais quais o infinito sobre os corpos mortos e sem cor que perambulam o planeta.

Mas tudo isso é besteira, porque pouca coisa importa ou é digna de atenção quando um cappuccino quente está bem a sua frente, vaporando e exalando seu cheiro forte enquanto a garçonete traz em mão a bandeja perscrutadora dum omelete cremoso, com semelhanças a um poche quente, não tão diferente do seu andar, e assim deixando por fim o prato sobre a mesa.

Akagi se mantinha recostado ao assento acolchoado, macio, enquanto na janela à sua esquerda as gotas finas e singelas escorriam pelo vidro, em um ritmo sereno, como o livro que tinha em mãos.

— Obrigado — agradecendo a moça, ele tomou um gole do seu café, até que com seus olhos ainda fechados, direcionou a palavra ao jovem à sua frente;

— Não vai pedir nada? Kohaku.

por Tsurugawa Kohaku Seg Abr 30, 2018 8:21 pm

De certo, aquele semblante de várias cores que se mostrava pela janela da cafeteria era impressionante. Cada cor viva que a cidade exalava e escorria pela visão dele era impressionante. Ou seria, se ele já não fosse completamente acostumado com aquela visão ou se ele decidisse focar naquilo com sua sensibilidade e empatia.

Kohaku dedilhava a mesa em um compasso. Cada dedo descia e fazia um som com seu impacto na mesa, em um ritmo que denunciava sua espera. Ele sentia o frio do lado de fora e sentia um pequeno tremido em antecipação, mas esperava que o casaco que vestia fosse o suficiente. Mas mesmo assim, não se prestou a olhar aquela xícara de cappucino. Era mais confortável ver tudo pelo reflexo da janela.

Mas havia sido inevitável, pois logo seu acompanhante lhe chamva a atenção, permitindo que ele lhe virasse o olhar. Era uma pergunta inofensiva, mas que para Kohaku ele um percalço enorme que com o tempo aprendia a superar.

Decidiu tomar o cardápio que estava ao seu lado em sua mão. Olhou com cuidado cada item da lista, percorrendo os olhos de âmbar por cada letra minuciosamente com seu indicador apontando para o local que lia. Finalmente, optou por um simples misto, acompanhado de um suco de laranja. Simples, mas eficiente.

Escolhido o pedido, pôs o cardápio à mesa e o virou para a direção de Akagi, apontando então para os dois itens da lista e esperando que Akagi pedisse por ele.

por Kogami Akagi Ter maio 01, 2018 8:55 am

— Claro, claro — ao ver Kohaku lhe indicar a sua escolha, Akagi esperou pela jovem garçonete passar por eles mais uma vez, e fez brevemente o pedido, cordial e educada como sempre, a moça assentiu, e foi providenciar o mesmo. Para Kou, o jeito quieto e introvertido do rapaz não lhe era incômodo, pelo contrário, as ações de Kohaku valiam muito mais do que meras palavras, algo bem diferente da televisão. Na bancada de atendimento, onde existiam bebidas, expressos, além do próprio caixa e funções semelhantes, a televisão do Café transmitia notícias sobre as Espadas de Damocles que surgiram no céu por toda a cidade a cerca de 3 meses atrás, mas que ainda assim mantinham uma magnitude considerável para a mídia. Sete Espadas. Ainda assim, uma delas não havia tido tanta garantia sobre seu surgimento, outra já havia chegado a aparecer no céu mais de uma vez por algum tempo, e a de Akagi ainda havia sido fonte de problemas, afinal, ela surgiu sobre o próprio Café, e o lado bom disto foi que o lugar teve uma movimentação enorme por um mês e meio. Mas agora, tudo estava tranquilo como era antes, e Kou gostava disso.

— Aqui está o seu misto... e, suco de laranja. Tenham um bom dia.

— Obrigado — ele agradeceu, e o jovem Kohaku assentia quase que imperceptivelmente com a cabeça.

Porém, não se limitando às Damocles, o termo Strain costumava ser citado com certa frequência pelos noticiários, alguns com um aspecto de mistério, outros com alegado risco e perigo para a sociedade. Akagi tomou um breve mas bom gole de seu cappuccino.

— Koha, será que é mesmo possível pintar o mundo de alguma cor? — perguntava ao amigo, afinal, era exatamente o que se via na televisão, um militante protestava contra os Strains, com uma placa que dizia, 'Por um mundo banhado à ouro'.

por Tsurugawa Kohaku Ter maio 01, 2018 11:56 pm

As espadas eram algo de se aterrorizar. Kohaku havia lido lendas sobre elas, as Espadas de Dâmocles, e sabia que isso era um perigo direto para Akagi. Seus dedilhados na mesa pareciam não expressar seu nervosismo, mas no fundo ele tinha medo de perder seu rei. Ele sentia que, num mundo onde todos o achavam estranho por optar a ser mudo, ele não gostaria de perder que o ajudava.

A pergunta de Akagi era simples, porém mais frequente do que se pensa. Não exatamente simples, pois existia todo o contexto político que poderia formar essa opinião, mas Koha tinha uma decisão bem afiada e precisa sobre aquela situação. Portanto, assim que ouviu a pergunta de Akagi, olhou em seus olhos e começou a pensar como responder.

Primeiro, pegou uma única moeda reluzente, brilhante e de cor prateada, e pôs no seu prato, junto ao misto quente. Em seguida, puxou um pouco do queijo que transbordava do alimento e o colocou de maneira que ficasse próximo à moeda.

Ele então pegou seu celular e rapidamente teclou algumas palavras, então entregando o celular a Akagi. E ali estava escrita sua resposta.

"Nem todo amarelo reluz, e nem tudo que reluz é ouro. O mundo pode ser banhado de ouro, mas isso não é menos ou mais provável de ser banhado de qualquer outra cor. A diferença é se você será engolido pelo destino, ou protegido por sua essência."

E depois, comeu o pedaço do queijo e parte do sanduíche junto. A moeda porém, ele guardou em seu bolso, completando a frase que havia feito com uma pequena metáfora e um sorriso em seu rosto. Sua filosofia não havia mudado ao longo dos anos. O que importa não é a cor que tem - não é a existência - mas é a sua alma, as coisas que faz. A sua índole - a sua essência.

por Kogami Akagi Qua maio 02, 2018 8:57 am

Depois de observar o prato e ler as palavras escritas no celular, Akagi o encarava, ou ao menos tentou, mas não pode evitar es desviar o olhar para a janela ao lado, sem jeito.

— Não deixe as coisas complicadas... — ele realmente compreendia o que Kohaku queria dizer, mas a maneira abrangente e razoavelmente analítica com a qual se expressava costumava sempre o surpreender, e tendo isso em visto, Kou era grato por Kohaku não falar, se ele colocasse para fora tudo que pensa, seria difícil conviver com ele.

Mas por um momento se permitiu sorrir de canto, retirando a careta de seu rosto, e observando janela além, ele apoiava a mão em seu queixo e na lateral do rosto, enquanto garoava suavemente.

— Mas será que você consegue mesmo banhar o mundo de uma cor? Afinal, você pode pintar o mundo de vermelho, repleto de paixão, mas ele vai continuar azul e triste, ou pode espalhar o amarelo com exultação, mas ainda assim vai existir um verde hipnotizante em algum lugar. E o destino o engolindo ou não, você tendo uma índole ou não, ela não importa se sua essência for caracterizada como boa ou má, porque não existe preto ou branco, lá fora, é tudo cinza e variável. E eu odeio isso, mas também odeio as coisas brilharem em uma só tonalidade.

Akagi compartilhava seus devaneios, mas parou subitamente quando notou que a mesma garçonete de antes os observava ao pé da mesa, sabe-se lá a quanto tempo, e sabe-se lá se Kohaku havia visto, afinal, mesmo que sim, ele não falaria nada.

— Er... hoje é o dia Croissant Surpresa... caso estejam interessados, temos um desconto de 45%... — um tanto sem jeito, ela informava.

Akagi agora era Kohaku, palavras não saiam de suas boca, e a moça que aguardou alguns instantes também não sabia o que dizer, então se desculpou, despediu-se, e seguiu com seu trabalho.

Colocando o dinheiro sobre a mesa, ele se levantava, sendo capaz de acenar para a jovem do outro lado do bar enquanto se preparavam para sair.

— ... Vamos, temos que resolver alguns assuntos na igreja.

por Tsurugawa Kohaku Qua maio 02, 2018 9:51 am

As palavras de Kou eram carregadas de sentimento até onde Koha pudesse sentir. Diferente do outro, as opiniões de Koha eram tão rígidas quanto uma palmeira. Ele apenas se curvava diante de uma opinião se ela fosse efetivamente forte e verdadeira. E ele sabia que sim, alguns resquícios sempre existiriam em meio à imensidão de uma cor só, mas isso, no final, seria completamente irrelevante. Principalmente para uma força no poder.

O problema é: seria uma imensidão que brilha,
ou que ofusca um brilho?

Aquele croiassant realmente parecia tentador. Koha chegou a pensar em pedir a Akagi, mas ele já havia se levantado. E certamente ele não pediria por um celular. Um pouco frustrado, se levantou junto com Akagi para resolver os assuntos da igreja.

E quando havia saido da cafeteria, ele logo olhou para a espada, tentadora e mortal. Ele torcia para que nada acontecesse, que aquilo não matasse seu único confidente, mas ele precisava confiar que o poder de Akagi não caísse contra si mesmo.

Koha logo pegou seu celular. Ele digitou algumas palavras e deu ele a Kou.

"Alguma coisa te preocupa na igreja, ou é algo de rotina?"

por Kogami Akagi Sáb maio 12, 2018 11:01 pm

— Eu só quero sair daqui e não passar vergonha — ele disse baixo para Koha enquanto deixavam a cafeteria.

— Mas bem, acho que sempre tem algo pra resolver na igreja — agora, caminhavam pela calçada naquela manhã dublada. Sempre lado a lado, afinal, era necessário para que Akagi visse o que Kohaku digitava. — E na verdade, precisamos mesmo chegar até a igreja, devido a situação do velho, não tem ninguém que realmente possa se responsabilizar com nada lá.

Não, o velho não estava doente, como é esperado em um cenário típico em situações semelhantes, mas tudo se tratava de um problema com o banco, e que se não fosse resolvido, poderia comprometer o prédio da CATHEDRAL. Akagi agora fazia uma ligação, enquanto sob a garoa fina, quase um sereno, os dois amigos esperavam o sinal para pedestres. Na chamada, Kogami conversava com o cozinheiro da CATHEDRAL, que de longe era a pessoa mais capacitada para lidar com alguém que aparecesse pelo lugar. As coisas pareciam calmas, até que Akagi pediu para o homem 'não fizesse nada', e que estavam a caminho, mas ainda assim, não parecia ser nada demais.

— Suda disse que viu uma garota deitada em um dos bancos. Não tem ninguém além dela lá, e a moça parece não ter visto ela. Vamos nos apressar um pouco.

Infelizmente a CATHEDRAL era de longe o clã com maior poder aquisitivo em Tokyo, e para o infortuno de ambos, teriam que seguir a pé em meio às nuvens cheias que ameaçavam despencar.

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